segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Das Novas Formas de Consultoria


 O discípulo pediu licença para deixar o mosteiro budista. Queria conhecer o mundo, outras  pessoas, coisas, bichos, terra e costumes estranhos- ele sempre enclausurado  ali, no exíguo espaço do  seu  templo, sempre a mesma coisa ... Daí o mestre concordou e ainda o presenteou com a tradicional  bandejinha  das esmolas–  de fina porcelana– desejando-lhe boa- sorte. Mas, infelizmente, logo ao sair, ainda na soleira do portal  –  conta a lenda – tropeçou, caiu e a bandeja se quebrou, despedaçada, curiosamente em  sete pedaços de estranha e peculiar geometria.

Juntando os cacos, triste, envergonhado, ele voltou ao mestre pedindo desculpas e ajuda – o que fazer agora?  Foi então quando o sábio mestre o consolou: “Veja esses sete pedaços, repare com mais atenção. Pois com eles, arrumados com inteligência, arte e alguma paciência você, querendo, pode  reproduzir o que bem quiser“. E mostrou-lhe como, unindo os pedaços daquele  “quebra- cabeças”, de diferentes  maneiras, juntando lados e recortes e com eles compondo e desenhando  as mais variadas e pitorescas figuras, fossem  camponeses, casas, navios, bichos, aves- o que se quisesse. E acrescentou: “Afinal, para que procurar no mundo lá fora  o que já  está aqui dentro,  ao alcance de  sua mão, tudo  dependendo da imaginação, de sua  criatividade e do seu empenho em aplicá-las? Basta tentar”.

Pois foi bem assim – conta a lenda – que o “ Tangram” foi inventado e você até pode testar até  hoje, sua espantosa versatilidade,  adquirindo-o  numa boa  loja de brinquedos ou de curiosidades – experimente e ficará assombrado.

Ora, essa historinha parece até ser mais uma dessas lorotas chinesas, dessas que contam ter eles  inventado  quase tudo:  da roda ao xadrez, do relógio à bussola, passando ainda pela gostosa macarronada, pelo futebol e pela  ignóbil pólvora dos canhões – mas não é isso que importa aqui.

Até por que, de modo bem semelhante, aquele tipografo alemão – séculos mais tarde –, ao carregar uma  das  pesadas  placas de chumbo na sua modesta oficina deixou-a  cair, partindo-a em dezenas de pedacinhos – uma letrinha em cada um– formando milagrosamente, ainda espalhados no chão, a frase “No principio criou Deus ao céu e a terra“.  Aquela mesma que daí em diante se leu –  no Primeiro Livro do Genesis – de qualquer Bíblia semelhante àquela primeira ,impressa  graças ao poder de observação e à criatividade de Gutenberg.

Entretanto, tais incidentes não são prerrogativas exclusivas de gênios ou de pessoas privilegiadas – dizem agora os pesquisadores e estudiosos do assunto, ao explorar  novas formas de administrar recursos e enfrentar os desafios, cada vez mais surpreendentes, dessa  evanescente e fluida modernidade, e da velocíssima mudança de cenários, de  hábitos, de necessidades quando não dos próprios  valores e da cultura daí resultante. Pelo menos é o que dizem os envolvidos nesse novo campo que se abre aos Consultores – o da “Gestão da  Inovação” da “Análise e Engenharia do Valor” ou dos “Design thinking” e da “ Whole-Brain Creativity” , – (ainda sem tradução geralmente aceita,  até por que ainda  tão modernas  aqui no Brasil).

Assim, por exemplo,  a Consultoria  em “Design thinking” – promissor campo de atividades  para os profissionais  da área, mais antenados  com a realidade, que  se desenvolve a partir de algumas características e dos pressupostos mencionados, dentre eles:

1º. A criatividade é atributo de todos, embora geralmente sufocada e reprimida  pelos padrões de comportamento e pelos conceitos e paradigmas geralmente aceitos;

2º- A descoberta, e a inovação dela resultante, exige nos colocarmos do ponto de vista das pessoas envolvidas e , de forma empática, experimentarmos o porque de seus comportamentos e das necessidades a que eles atendem;

3º- A  criatividades é estimulada pelo “cruzamento” de dados e informações, obtidos de diversas pessoas ou de múltiplas fontes, numa rearrumação de itens ou partes até aparentemente conflitantes–  outros tantos pedacinhos do Tangram e de Gutenberg;

4º - A melhor forma de testar novas soluções consiste  na montagem de “protótipos”  que simulem  ou permitam a experimentação  de novos modelos, de novas maneiras e modos de fazer; e

5º. As técnicas de Pesquisa-e- Ação,  na qual se introduzem mudanças tentativas e se observam e se pesquisam, a cada passo, as reações às mesmas, têm inegável valor e aplicação prática comprovada.

Na verdade, com essas técnicas de “Design Thinking” e de outras  focando a  Gestão da Inovação  o que o Consultor pode oferecer  de diferente é, afinal , a maneira de ver polivalente,  peculiar e  original de uma realidade problemática à procura de novas formas de enfrentá-las .

Muitas são as novas formas de Consultoria –  procure conhecê-las.


Luiz Affonso Romano, publicado em 10/01/2013, no site: www.qualidadebrasil.com.br
Consultor Organizacional( há 41 anos), coach de Consultores, coordenador do Perfil da Consultoria no Brasil 2011

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