Publicado em 6-Apr-2011, por Domingos Ricca
O modelo familiar está presente na história das empresas brasileiras há séculos, e continua, até hoje, sendo o predominante no mercado. Alguns desses negócios se desenvolveram e alcançaram grandes proporções, tornando-se companhias presentes em todo o território nacional. No entanto, a porcentagem de empreendimentos que crescem e se perpetuam ainda é muito baixa.
Para o especialista em profissionalização e sucessão de empresas familiares, diretor e sócio da DS Consultoria, Domingos Ricca, a sucessão é um dos pontos-chave no sucesso e perpetuação da empresa familiar. No Brasil e no mundo, existem inúmeros casos de grandes empreendimentos consolidados que acabam devido a sucessões mal planejadas.
O que geralmente ocorre é que, após dedicar sua vida para desenvolver sua empresa, o fundador não deixa preparado um herdeiro para assumir seu posto. “Algumas vezes, a própria ideia de que um dia terá que deixar a diretoria de seu negócio assusta muitos empreendedores, fazendo com que prefiram ignorar a necessidade de um processo sucessório”, explica Ricca.
Segundo o especialista, a postura que o fundador toma frente a sucessão se reflete na sobrevivência de seu negócio após sua ausência. Na maior parte dos casos, a família entra em conflito pela disputa do poder e a empresa acaba sendo vendida.
Para que uma empresa siga o sonho do fundador e se perpetue da maneira esperada, é necessário que ele esteja muito consciente das medidas que deve tomar enquanto ainda está no poder.
“O primeiro passo é determinar a época da sucessão”, afirma Ricca. Para isso, deve-se levar em conta que é importante a presença do fundador como sede do conhecimento no auxilio aos mais jovens, para que ele permaneça na empresa ajudando a resolver situações.
Muitos herdeiros, ao assumirem, realizam mudanças sem pensar no que elas irão significar na imagem da empresa. Para que os negócios sigam o caminho desejado pelo empreendedor, é necessário transferir o valor e a cultura empresarial para a próxima geração. Esta é a maior dificuldade encontra pelo fundador: transmitir seu carisma e liderança, essenciais no desenvolvimento.
Também é preciso estabelecer o processo da formação de um Conselho de Administração, que irá desenvolver o Acordo de Sócios e Cotistas/ Acionistas, o Código de Conduta e o Estatuto do Conselho de Administração, auxiliando na boa conduta da gestão e evitando conflitos.
Para exemplificar, Ricca explicou uma das maiores disputas empresariais que ocorre atualmente. Na empresa Obdebrecht, que pertence às famílias Odebrecht (79,4%) e Gradin (20,6%), o Acordo de Acionistas veta a possibilidade de a controladora comprar a parte minoritária sem que esta parte concorde.
Em maio de 2010, no entanto, o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, apresentou uma proposta para adquirir os 20,6% dos Gradin, causando um desentendimento com os irmãos Bernardo e Miguel Gradin, que não têm interesse em vender a participação e não concordam com o direito de compra dos controladores.
“A desavença ocorreu na terceira geração de familiares que assumiu a companhia. Isso demonstra que, por mais bem estruturada que seja, toda empresa sofre com conflitos de interesses”, explicou o especialista.
As famílias Odebrecht e Gradin, que estão juntas nos negócios há 40 anos, entraram na justiça para tentar solucionar o conflito. “Devemos levar em conta que a conscientização dos familiares sobre o planejamento sucessório e a profissionalização da empresa evitaram maiores conflitos por três gerações e, mesmo que agora estejam em uma disputa judicial, as famílias afirmam continuar com uma boa relação, sem prejudicar a Odebrecht”, afirmou Ricca.
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