quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Que Querem As Mulheres No Poder?




A vida de um consultor é acima de tudo um grande aprendizado; cada cliente, cada trabalho novo é uma estória diferente, por mais que tentemos analisar a situação através de uma ótica padrão. Os problemas nas empresas são todos semelhantes e todos diferentes, ao mesmo tempo, e aquilo que deu certo em determinada organização, não necessariamente dará certo em outra igual.  Quase sempre os executivos que buscam a participação de um consultor são do sexo masculino; nestas situações a fluidez das idéias são imediatas e automáticas, mesmo o formalismo normal, existente neste tipo de situação, em poucos minutos desaparece; as convergências de visão dos problemas e a velocidade de compreensão das propostas é rapidinha, tipo um-dois, um-dois; ou seja, toca aqui, recebe na frente, bate no gol e vamos pro jogo, não há tempo a perder; cruze que alguém vai aparecer na área pra cabecear, carpe diem!

Quando acontece, porém, de o executivo contratante ser do sexo feminino, aí babou! Todas aquelas situações de facilidades interativas acima descritas não existirão mais, a explicação das propostas terão de ser didaticamente descritas, com grau de minúcias confucianas, e tudo aquilo que já foi explicitado ene vezes antes vai ser perguntado de novo, mais uma vez, novamente, do começo, por favor! Não rola aquele bate-bola leve, não rola aquele lance de o meu interlocutor já ter entendido o que eu nem falei ainda. Na verdade é necessário um bom tempo de conversa para perceber que, embora a princípio não parecesse, nossos pontos de vista convergiam para a mesma direção, apenas eram focados de maneira diferente. Ademais, a escolha das palavras certas tem que merecer especial atenção, e se imaginar que o contrato vai ser assinado assim, de primeira ... ta viajando.      

Quer dizer então que as mulheres são incapazes e atrapalhadas, e que com elas as coisas não andam, não fluem?  Não! Nada disso. Na verdade elas fazem as coisas da maneira certa, minuciosamente como deve ser, ao contrário dos homens que, de cima da sua auto-suficiência, acham que já entenderam o que ainda nem escutaram, e se der algum problema... “deixa comigo!” A verdade é que em todas as ocasiões em que meu contratante é do sexo feminino eu sou obrigado a trabalhar muito mais. As explicações, os relatórios, as propostas precisam ser muito mais elaboradas, o que evidentemente, resulta num trabalho final muito melhor, é necessário admitir. E muitas empresas estão, nesse momento de incerteza e de crise, vendo nas mulheres uma fonte de vantagem competitiva, considerando que a inteligência feminina pode ser fundamental no processo decisório. As empresas, muito ao contrário do que se via há tempos atrás, estão valorizando como matéria prima básica a criatividade, a inovação e a imaginação humana e, nesse cenário não há como deixar as mulheres de lado. Elas vieram realmente para ficar.

A participação das mulheres no processo de decisão das empresas tornou-se questão de sobrevivência, pois estas  precisam a todo momento de todos de sua equipe participando, pensando, criando e sendo pró-ativos e para isso é necessário utilizar toda sua diversidade de talentos, independentemente de sexo, raça, nacionalidade ou cor, só ou trouxas não vêem isto. A idéia não é  defender a supremacia de mulheres ou algo parecido, mas sim de defender a heterogeneidade de idéias e percepções que norteiam a mistura dos dois sexo, tendo em mente que uma empresa terá uma visão muito mais ampla e completa se tiver em sua direção homens e mulheres bem divididos no comando. Agora, ao lado das mulheres estão algumas de suas características que, de certa forma, eram negativamente observadas no passado no masculino mundo corporativo, tais como sensibilidade, impulso para acomodar situações, preocupações, paciência, dentre outros. Além do mais, as mulheres valorizam o trabalho em equipe; são menos imediatistas; são flexíveis no trato pessoal e mais inflexíveis com os malfeitos; são perseverantes, pensam com mais sensatez no longo prazo e estão mais abertas ao aprendizado. E, ao contrário do que era considerado pelas empresas no passado, tais características tipicamente femininas – como dizem por aí- estão sendo valorizadas e as empresas estão tentando desenvolvê-las também entre seus dirigentes masculinos.

Decerto que há uma tendência no mercado, de um modo geral, de ver sempre o homem como o comandante-em-chefe; há o caso daquele casal que entrou em uma concessionária de automóveis, onde a mulher, uma bem-sucedida executiva, ia comprar um carro novo para ela. Eis que depois de gastar mais de meia hora explicando as excelências do automóvel para o homem, como se a mulher fosse invisível, o vendedor por fim virou-se para ela, apenas para mostrar um compartimento no painel “para quando a senhora perder as chaves”. Como diria o saudoso Bussunda: Aí, fala sério!   Desde o início dos tempos, instituições e empresas têm sido tradicionalmente comandadas por homens, dito estrategistas. Os estrategistas, como expressão de chefes militares moldaram uma cultura de comando inflexível e inquestionável em quase todas as organizações empresariais. Dessa forma de ver e transformar o mundo deriva as expressões, as palavras, os gestos, comportamentos, horários e formas de vestir-se no mundo do trabalho, demasiadamente preocupado em controlar o tempo e pretender eliminar os desejos e as subjetividades. A palavra de ordem, produtividade, é essencialmente masculina. Homens tem dificuldade em conviver com licença maternidade e menstruação. Homem queima etapas, homem tem pressa. E a pressa é inimiga da perfeição.

Os ditos estrategistas , desde a antiga Grécia, são homens. E as empresas vêm ao longo dos anos repetindo o mesmo modelo masculino de comando, caracterizado muitas vezes por ser desproporcional, insensato, tôsco, feroz e cínico. Aos homens-comandantes-em-chefe cabem historicamente tomar as decisões de forma objetiva. O gênero masculino é normalmente apresentado como um atributo natural do poder, o que no mundo da gestão empresarial é no mínimo uma furada, para não dizer uma fraude. Esperemos que elas continuem sendo como são e não nos imitem As mulheres são mais completas e as empresas não podem mais se dar ao luxo de excluí-las ou de diferenciá-las em qualquer aspecto dos homens.   Até porque, quando meu cliente é mulher, eu tenho que ralar muito mais.

Autor: Mauricio de Oliveira

Publicado em: 29/09/2011, no site: www.qualidadebrasil.com.br

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