segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As grandes empresas brasileiras nunca foram tão agressivas na hora de valorizar seus executivos. A remuneração total do alto escalão nessas organizações já é maior que a das multinacionais que atuam no país em todos os níveis - desde a diretoria até a presidência - e chega a ser 137% superior em alguns cargos. A conclusão é de uma pesquisa da consultoria Mercer, que analisou salários de 807 executivos de 40 empresas nacionais e multinacionais com faturamento anual acima de US$ 1 bilhão.

A maior diferença foi registrada nos salários dos diretores gerais - como são chamados presidentes de subsidiárias - ou, no caso das nacionais, executivos à frente de unidades de negócios de grupos empresariais. Nesses cargos, o mix de remuneração média anual, que inclui salário fixo, variável de curto e longo prazo e benefícios, é de R$ 5,16 milhões nas companhias brasileiras, ante R$ 2,17 milhões pagos nas estrangeiras. Enquanto presidentes e CEOs de empresas nacionais ganham, em média, R$ 6,81 milhões por ano, a remuneração de seus colegas nas múltis é de R$ 5,18 milhões, o que significa 24% a menos. A disparidade é significativa também em outras posições no alto escalão.

As diferenças salariais entre empresas brasileiras e estrangeiras surpreendeu até mesmo os próprios executivos de RH das companhias, que estiveram na apresentação dos resultados da pesquisa, na semana passada. O clima foi de preocupação entre as multinacionais, que também sofrem com a escassez de talentos no país, mas têm pouca autonomia para remunerar seus executivos locais de forma mais competitiva. "Parte delas já estuda a possibilidade de desenvolver pacotes diferenciados para o Brasil", afirma Fabiano Cardoso, consultor sênior da Mercer.

Segundo ele, esse cenário é agravado pelo fato de o Brasil praticar uma das remunerações variáveis mais agressivas de todo o mundo. Enquanto nas multinacionais os incentivos de curto prazo (como bônus e participação nos lucros) e os de longo prazo (como as stock options, opção de compra de ações) representam 55% do total dos ganhos de um CEO, nas nacionais essa parcela chega a 68%.

A opção das empresas brasileiras por incentivos de longo prazo, segundo Cardoso, se intensificou nos últimos anos, mas só se tornou parte de um programa mais consistente depois da crise de 2008. A turbulência global também explica o fato de as multinacionais estarem menos competitivas na parcela variável dos salários. "Além de contarem com menor otimismo por parte das matrizes, algumas companhias reduziram seus planos de ações", afirma. Até mesmo as que mantiveram essa opção não fugiram do impacto da crise sobre o valor de seus papéis. "A expectativa de ganho acaba sendo pouco atrativa."

Por outro lado, as companhias estrangeiras continuam a compor boa parte da remuneração total de seus altos executivos com salários base e benefícios, que normalmente fazem parte de um pacote global. "Ainda assim, quando comparamos aos valores totais pagos, a parte fixa das nacionais é compatível com a das múltis", diz.

Independentemente da origem da matriz, em 2011 as companhias pagaram variáveis acima da meta prevista para o ano, graças aos bons resultados no mercado brasileiro. Foi o caso dos presidentes e diretores gerais, cuja remuneração de curto prazo atingiu 110% do salário base anual, enquanto a meta era de 101%. O mesmo aconteceu com os vice-presidentes, que ganharam 83% do salário como variável, acima da meta de 76%; e dos diretores, que atingiram 63% e tinham uma meta de 57%.

Brasileiras e multinacionais também estão optando cada vez mais pelo 'hiring bonus' - pago no momento da contratação e opção de 67% das organizações que usam alguma prática de remuneração para atrair talentos. De acordo com Cardoso, ele é mais comum no setor financeiro, mas vem se popularizando em outros segmentos. Ainda não se trata, porém, de um incentivo institucionalizado. A decisão de oferecer essa premiação é estudada caso a caso em 88% das companhias que a concedem. "É uma forma de recompensar o executivo por ele estar se arriscando ao mudar de emprego e também de não deixá-lo perder os bônus que já tinha direito na empresa anterior", afirma.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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