Executivos como Henrique Meirelles, Alain Belda e Carlos Ghosn ficavam em segundo plano.
Por
isso, a maioria dos brasileiros acredita até hoje que empresários mandam
no país, que são os "donos do poder", e que um bando de empresários
internacionais, reunidos neste momento em Davos, está decidindo os rumos
da humanidade.
Há muito
tempo as companhias no resto do mundo não são mais dirigidas por
empresários, e sim por administradores profissionais, sem laços de
família nem mesmo de nacionalidade com aqueles.
Administradores profissionais são eleitos democraticamente por milhares de pequenos acionistas.
Por sua vez, empresários são eleitos por cinco ou seis membros de uma única família.
Administradores profissionais podem ser demitidos, e por isso pensam mais como trabalhadores que como acionistas.
Empresários
nunca são demitidos quando sabem controlar o capital da companhia,
objetivo número 1 da empresa com ações em bolsa no Brasil.
Administradores
profissionais competentes fazem o jogo político de conciliar interesses
conflitantes de trabalhadores, clientes, ecologistas, fornecedores e
acionistas.
Da mesma
forma que a separação da Igreja e do Estado foi um marco da evolução
política da humanidade, a separação do empresário capitalista da gestão
da empresa foi um importante avanço na evolução das companhias
democráticas e pluralistas.
Aceito a
crítica de que muitos gestores e executivos profissionais só defendem
os acionistas controladores, mas aí o problema é do modelo econômico
vigente, de negar aos acionistas majoritários que detêm até 85% do
capital o direito de voto.
Nossos
empresários e o Estado chegam a controlar empresas privadas ou estatais
tendo somente 17% das ações, ao arrepio do alienável direito ao voto que
está na Constituição.
Foi assim que o economista Daniel Dantas conseguiu controlar uma empresa de telefonia.
Nas
empresas democráticas, em que todos têm o direito de voto, agradar a 5
milhões de acionistas é quase impossível, a não ser pela eficiência.
O
problema da Enron e do capitalismo americano atual foi a criação dos
bônus anuais e stock options para executivos, que passaram a agir cada
vez mais como os capitalistas de antigamente e cada vez menos como os
administradores profissionais que deveriam ser.
Mas isso tem fácil solução. É só cortar esses privilégios.
Pela primeira vez um jornal de negócios brasileiro cria um prêmio não para empresários, mas para "reconhecer e prestigiar profissionais que inspiraram seus times com capacidade de liderança, ousadia e visão estratégica".
Um prêmio para administradores, e não para capitalistas.
O jornal Valor Econômico virou no ano passado uma importante página no jornalismo econômico.
Uma quebra de paradigma não trivial.
Abilio
Diniz e Eugênio Staub, dois dos contemplados, são chamados agora de
"gestores de empresas", e não mais de empresários, como de costume.
Dos 22 vencedores do ano passado, doze são formados em administração de empresas, quatro na FGV e dois em Harvard.
Quebrou-se
um paradigma cultural e do jornalismo brasileiro, a veneração do
"empresário" como agente de mudanças, e introduziu-se a equipe de
administradores profissionais no centro da questão.
A era do
empresário terminou nos Estados Unidos em 1930, com os Rockefeller,
Ford, Carnegie, que lentamente foram substituídos por administradores
profissionais sem nenhum parentesco com a família.
O século
XX viu a substituição do acionista controlador pelo administrador
conciliador, o que foi possibilitado pela pulverização do capital entre
milhares de pessoas.
Com nada
menos que setenta anos de atraso, estamos finalmente começando a
trilhar o mesmo caminho, o caminho da democratização dos meios de
produção.
Artigo Publicado na Revista Veja, edição 1787, ano 36, nº 4, 29 de janeiro de 2003, página 20.
Do blog do Stephen Kanitz - Recebido do autor por e-mail
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