terça-feira, 8 de maio de 2012

Quero sê motorneru!


...esse dilema indivíduo-empresa, essa contradição entre o que se diz e o que se quer, entre lucro e qualidade de vida, entre perseverar na mesmice ou partir,corajosamente, para outros destinos...

Por Luiz Affonso Romano

Desses, dos bondes elétricos, da antiga Light do Rio. Era a resposta desconcertante que davam os garotos do nosso tempo - aos cinco, seis anos - aos adultos que perguntavam, indiscretos e um tanto ameaçadores: "Ô, menino, o que você quer ser quando crescer?" E por que não motorneiro - com certeza pelos coletes que usavam ( Deus meu, com todo aquele verão carioca!) - pelos magníficos botões dourados, o quepe vistoso e, mais que tudo , comandando autoritários e importantes, aquela enorme e barulhenta almanjarra de madeira e aço.

Pois indagação semelhante o Consultor às vezes se faz, ao se propor ajudar a resolver- com seus diagnósticos e sugestões-, a problemática de certos Clientes. Porque, principalmente nas empresas de família ou de um só empreendedor, os anseios, intenções e necessidades estritamente pessoal, do sócio majoritário- que manda, de fato-, acabam por se sobrepor aos objetivos e metas definidos nos contatos iniciais e no propósito alegado para os serviços de Consultoria. Perguntar,por exemplo: Meu caro Cliente, o que você quer (ser) afinal?

Isso porque o Planejamento estratégico, os objetivos e planos a curto, médio e longo prazo, as metas da empresa estão todos inextricavelmente aos das pessoas-chave, aos empreendedores que dão sempre a última palavra.

Ora, o Consultor se aplica a conhecer a Situação atual da empresa e, à luz do mercado, da concorrência e dos objetivos econômico-financeiros do negócio, põe-se a desenhar um diagnóstico e a propor recomendações alinhadas com esses aspectos. Daí, ele faz a pergunta talvez errada: Como aumentar e garantir o crescimento da empresa, o retorno do investimento e maior participação de mercado?

Aliás, na prática, todo profissional da área já deve ter enfrentado, sub-reptício ou não, esse dilema indivíduo-empresa, essa contradição entre o que se diz e o que se quer, entre lucro e qualidade de vida, entre perseverar na mesmice ou partir,corajosamente, para outros destinos.

Ou seja, tudo recomendando uma atitude mais eficaz e proativa do Consultor, perseguindo transparência e objetividade para o Real problema, identificando com mais cuidado suas razões e circunstancias focalizando mais o futuro- o que se deseja? -, do que o passado e até que o presente já que este, quando se o examina, já é também passado.

Ademais, há interessante e útil ferramenta de Consultoria que pode ajudar a encaminhar problemas como este ou semelhantes. Trata-se da técnica de "Value Clarification" ( Clarificação de valores ), com a qual se procura, justamente, definir com o Cliente-pessoa física- o que é para ele mais importante e em que ordem de prioridade e relevância, que caminhos ele gostaria de percorrer, que portas abrir e quais fechar, já que escolher algo é também desistir do restante .

Assim, por exemplo,pede-se ao Cliente listar as dez ou vinte coisas mais importantes a fazer, os comportamentos mais estimulantes , as situações, as atividades e os hobbies mais instigantes, o que lhe traz maior alegria e satisfação na sociedade em que vive, na família, com os amigos e conhecidos, na sua atividade, com os seus associados, fornecedores, clientes e a comunidade em geral.

Depois disso, a partir de uma pesquisa e prospecção programada e inteligente, vai o Consultor ajudar o Cliente a botar tudo isso em ordem de relevância, importância, urgência e expectativas pessoais.O resultado de tal exercício pode ser surpreendente.

Com efeito, em nossa experiência recente o Cliente que nos consultava com o declarado objetivo de vender sua empresa , acabou por descobrir que, ao contrario do que ele acreditava, seu trabalho era muito mais importante do que ele mesmo percebera e que, com algumas mudanças e ajustamentos, a continuidade do negócio poderia ser mais gratificante do que ele jamais esperara.

E não seria esse o papel de todo bom Consultor: Ajudar o Cliente a descobrir e se conscientizar de uma alternativa diferente da que ele imaginava ter escolhido? Uma outra alternativa, bem melhor do que aquela,infantil, de ser um vistoso motorneiro?

Artigo escrito em parceria com Paulo Jacobsen.

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Publicado no site: www.administradores.com.br

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