domingo, 27 de fevereiro de 2011

ACERCA DAS GERAÇÕES E ORGANIZAÇÕES


Publicado em 8-Feb-2011,  por VALMIR MONDEJAR

 Ainda que ultimamente muito tenha sido escrito, muito ainda falta a discutir e principalmente compreender sobre as dinâmicas geracionais e organizacionais.
       
         No artigo “As gerações, as organizações e os ritos de passagem” procurei colocar as bases e algumas conclusões do estudo realizado pela Sociedade Norte-Americana para a Formação e Desenvolvimento onde ela, a Sociedade, procurou caracterizar os perfis comportamentais dos profissionais avaliados.
              
         Tal estudo conclui por agrupar características, associadas à idade cronológica, criando assim grupos, por exemplo, Geração Baby Boomer (nascidos nos EUA entre 1946 e 1964), Geração X (nascidos nos EUA entre 1960 e 1980) e Geração Y ou Geração Milênio (nascidos nos EUA entre meados de 1970 até meados de 1990). As crianças então que vimos nascer e se desenvolver desde 1990 até 2010 é a geração denominada Geração Z. Antecipo que esta é somente uma das muitas definições dadas por diferentes autores.

         Ocorre que tal estudo foi realizado em território norte-americano e, portanto, reflete uma trama social, tecida por mãos da sociedade norte-americana submetida aos acontecimentos políticos, econômicos e de movimentos locais. Logo, denota ser um grande equivoco rotular as gerações brasileiras, atribuindo-lhes as mesmas características e comportamentos, da mesma forma como as encontradas nos EUA, justamente por não termos sido objeto deste estudo nem termos o mesmo contexto histórico.

         Um grupo social que tenha nascido nos EUA entre 1946 e 1964, por exemplo, tem referencias da Segunda Guerra Mundial, do Escândalo do Watergate, da corrida armamentista, do bloqueio de Cuba, de Martin Luther King, do movimento pela liberdade sexual, do movimento Hippie e outros eventos nos quais a sociedade norte-americana esteve fortemente implicada.

         Vejamos agora um grupo nascido no mesmo período no Brasil: os eventos que moldaram toda uma geração nos EUA nos pegaram de raspão somente, ou ainda de raspão e a grupos reduzidos de indivíduos que tiveram acesso a algum tipo de informação. Vale lembrar que, neste período tínhamos um Brasil muito menos metropolitano e com acesso a informação muito restrita. Para ser mais preciso, deveríamos estudar o impacto do Milagre Econômico, dos movimentos de guerrilha, do estabelecimento da Ditadura Militar, da gestão de Juscelino Kubitschek, do movimento estudantil e musical para procurar entender como tudo isto se amalgamou a estes jovens nascidos em território brasileiro entre 1945 e 1960.

         Cabe ainda lembrar a heterogeneidade da população brasileira, fruto da miscigenação das várias culturas, cada qual com seus valores, de norte a sul e de leste a oeste, com disparidades tão importantes que o conceito de “média” não faz qualquer sentido. Em nosso caso, procurar caracterizar um profissional brasileiro considerando toda esta heterogeneidade nos levaria a conclusões medíocres. O que dizer sobre as semelhanças entre o filho do italiano oriundo de Bergamo e mãe de origem alemã, os três radicados nas montanhas gaúchas que vivem da cultura da uva, do filho do mestre de obras pernambucano que vive em São Paulo e da garota que nasceu e sempre morou em Belém do Pará?

         São todas estas variáveis que tornam impossível um alinhamento conceitual com o estudo realizado à época nos EUA, e torna-se um engano maior ainda rotular este ou aquele indivíduo por aqueles critérios.

          Que conhecimento então temos a incorporar deste estudo? Que existe uma relação conflituosa entre pessoas de gerações diferentes? Era necessário um estudo para termos consciência disto?

         Seria suficiente olhar com olhos críticos a relação entre os indivíduos de uma família como a seguinte: pais com aproximadamente 45 anos, filho adolescente aos 13 anos e avó aos 83 anos. Os conflitos são inerentes ao convívio e têm sua dinâmica própria.

         Temos que observar cada vez mais a dinâmica da estrutura familiar, progressivamente menos hierarquizada a exemplo das organizações. De certa maneira a estrutura familiar e as organizações evoluem lado a lado e estão mais e mais matriciais. Mais de um provedor, mais de um decisor, mais diálogo, processo decisório menos piramidal em prol da maior participação, envolvimento, etc.

         E esta é a razão pela qual venho reiterar minha recomendação: “... Cabem àqueles que estão no topo das organizações públicas e privadas olhar verticalmente, identificar os grupos, gerações ou tribos, como queira chamar, identificar suas características, atributos e necessidades para que possam assumir suas posições no futuro e prover-lhes treinamento, capacitação de forma estratégica e, sobretudo um tutor” (“As Gerações, as Organizações e os ritos de passagem”). É essencial olhar verticalmente para os indivíduos e grupos dentro de sua organização, pois ela é única, é um grupo social ímpar, não de um único grupo social, e que não se repetirá em outra empresa. Ela é o resultado da interação multidisciplinar e sócio-cultural de sua equipe. Impulsionar e perenizar a convivência deste grupo significa consolidar um conjunto de valores e características.

         Dar suporte e ajudar a superar as dificuldades, a reconhecer e valorizar as diferenças é nossa função, enfim, como líderes, criar líderes porque sem as pessoas, velhas e jovens, nada existe!

 Do site: www.gestopole.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário