sábado, 23 de julho de 2011

Inovação: como lidar e aprender com seus fracassos e sucessos

 Vivemos numa economia em constante mudança e sabemos que ficar parado não é uma opção segura e sábia. No entanto, muitas organizações, apesar de ameaçadas por concorrentes inovadores e por mudanças nas preferências dos consumidores, se veem paralisadas pelo medo de correr riscos, optando pela inércia. Fecham os olhos aos novos tempos e se refugiam no passado, mantendo processos e produtos ultrapassados.

As organizações inovadoras sabem que correr riscos é inerente ao processo criativo. Inovação é mudança e não há mudança sem riscos de falhas. Você pode e deve tomar ações preventivas para minimizar os riscos de falhas, mas toda inovação é, em certa medida, uma aventura por terreno desconhecido. Para saber o que funciona e o que não funciona você tem que fazer experimentos, cometer alguns erros e ter perseverança e paciência. Não se trata de jogar irresponsavelmente com a sorte, mas de executar um plano de experimentos baseados em avaliações realistas dos benefícios potenciais e dos riscos.

Como as organizações lidam com suas falhas

Como lidar com as falhas é um dos importantes diferenciadores entre as organizações inovadoras e as conservadoras. As organizações podem adotar três distintas atitudes com relação aos seus erros.

Primeiro, elas podem escondê-los e tentar esquecê-los. Essas organizações estão fadadas a cometerem repetidamente os mesmos erros e ter uma morte prematura. São organizações imaturas e incapazes de lidarem objetivamente com os sentimentos negativos associados aos fracassos. Não há clima para a criatividade e inovação, pois as evidências de declínio são ignoradas, predominando a ilusão de que tudo está bem, sem necessidade de mudanças.

Segundo, elas podem lamentar e procurar culpados. Se os pretensos culpados forem internos, serão castigados. Se as pretensas causas forem externas (economia, câmbio, etc.) elas adotarão atitudes fatalistas. Elas preferem racionalizar seus erros ao invés de analisá-los e conhecer suas verdadeiras causas. Neste caso, continuarão também a repetir os mesmos erros até falirem munidas de variadas justificativas para seus fracassos. As iniciativas de mudanças são paralisadas pelo temor do erro e das acusações de incompetência e irresponsabilidade.

Terceiro, elas podem refletir e aprender. São organizações maduras, que veem nas falhas oportunidades de aprender com seus erros e inovar. Elas procuram analisar seus erros e entender o que aconteceu e o porquê. Um exemplo deste processo de análise efetiva de falhas é encontrado na análise meticulosa dos desastres aéreos para identificar suas causas. Outro exemplo similar é encontrado em hospitais, em sessões onde os médicos se reúnem para estudar erros relevantes e casos de mortes inesperadas para identificar, discutir e aprender com suas falhas.

A condução de uma análise de falhas requer mentes abertas e inquisitivas, paciência e tolerância à ambiguidade. Requer ainda que o grupo de análise reúna pessoas com conhecimentos técnicos, experiência nos processos de análise e de gerenciamento de equipes, e diversidade de enfoques, permitindo que explorem diferentes interpretações das causas da falha e suas consequências.

Exemplos de organizações que lidam positivamente com suas falhas

Precisamos nos livrar da falsa noção de que toda novidade nasce de uma única ideia brilhante e definitiva, como um tiro certeiro na mosca. Na maior parte das vezes, uma ideia inovadora resulta de muita persistência e de várias tentativas fracassadas. O tiro certeiro é mais uma exceção do que uma regra. Algumas vezes, o produto inovador é o fruto do acaso.

Na indústria farmacêutica, cerca de 90% de novas drogas falham no estágio experimental. Assim, as empresas deste setor apresentam muitas oportunidades para análise de falhas. As empresas que são criativas na análise de falhas se beneficiam de dois modos. Primeiro, a análise de uma droga que falhou revela, às vezes, que a droga tem uma aplicação alternativa válida. Por exemplo, o Viagra foi originalmente idealizado para o tratamento de angina. Em outro caso, a Eli Lilly descobriu que um anticoncepcional rejeitado nos testes poderia ser usado no tratamento de osteoporose.

Segundo, uma análise mais aprofundada pode, às vezes, salvar um produto aparentemente não aprovado para sua finalidade original, como no caso do Alimta do laboratório Eli Lilly. Após os fracassos dos testes desta droga quimioterápica, a empresa estava decidida a abandoná-la. Contudo, o médico que conduziu os testes resolveu analisar melhor as causas do fracasso. Com a ajuda de um matemático, analisou novamente os dados dos testes e descobriu que os resultados negativos tinham ocorrido com pacientes com deficiência de ácido fólico. Investigações posteriores mostraram que simplesmente dando ácido fólico a estes pacientes juntamente com o Alimta resolvia o problema, salvando uma droga que seria abandonada.

Benefícios da análise de falhas

Após vivenciar um fracasso, as pessoas costumam colocar a culpa em outras ou em forças externas fora de controle. Se esta atitude negativa não for combatida, a empresa perde a oportunidade de aprender com seus experimentos e erros e acaba por travar o processo de busca da inovação de seus produtos e serviços.

Além dos aspectos técnicos, a análise sistemática de falhas traz importantes benefícios sociais e organizacionais. Primeiro, a discussão fornece uma oportunidade de aprendizado para outras pessoas não envolvidas diretamente com o experimento. Segundo, outras pessoas agregam perspectivas diferentes que compensam certas tendências que podem distorcer as percepções daqueles diretamente envolvidos no experimento.

Muitas organizações sonham com o sucesso, com a criação de algo inovador ou a solução criativa de um problema. Para ser realmente ágil e bem sucedida, a organização tem de dar às pessoas a liberdade para inovar, a liberdade para experimentar. Isto significa também que estas pessoas tenham a liberdade de falhar. As empresas devem aprender a distinguir o erro honrado e o erro por incompetência. As falhas honradas são decorrentes de tentativas honestas, planejadas e bem intencionadas de se fazer algo novo ou diferente.

Aprenda com os sucessos

Os sucessos também podem constituir excelentes fontes de aprendizado e aperfeiçoamento. Primeiro, analise os sucessos para saber que boas práticas podem ser replicadas para outros experimentos e situações. Assegure que outras unidades e equipes se beneficiem com as lições aprendidas. Segundo, procure identificar o que pode ser melhorado em futuros experimentos similares.

Autor: Jairo Siqueira

Publicado em: 11/07/2011 , no site: www.qualidadebrasil.com.br

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