terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Espere o inesperado



Publicado em 13-Dec-2010, por Wagner Siqueira



A fecundidade do inesperado é capaz de surpreender as previsões do mais arguto analista. Não basta ao líder apenas desenvolver em conjunto com a sua equipe o maior número possível de cenários capazes de antecipar a chegada do imprevisto, criando as alternativas para o superar. É preciso, acima de tudo, uma nova atitude, uma abertura psicológica e uma prontidão à mudança para aceitar o novo como inevitável e a trabalhar com ele como parte do cotidiano gerencial.
Uma atitude mental centrada apenas no racionalismo dificulta a capacidade de o indivíduo enfrentar o inesperado. É preciso emoção, uma predisposição psicológica para derivar satisfação da ambigüidade, de buscar na incerteza a certeza, no incerto o certo. A única certeza é a mudança, pois mesmo o que funciona bem já está obsoleto. Sempre haverá formas melhores de fazer o que já é bem feito.
Essa postura pessoal é sobremaneira relevante quando se constata que todo o processo de socialização a que somos submetidos (desde a mais tenra idade: na família, na escola, na igreja, no clube, na faculdade) são conducentes à formação de posturas voltadas à permanência das coisas e a certeza das relações, e, quando muito, a apenas aceitar a mudança gradualística e evolucionária. Temos uma incapacidade treinada para conviver com o novo, mais ainda com o inesperado, pois fomos formados, reformados – e porque não dizer de formados – para um cotidiano pressupostamente estável, de mudanças apenas incrementais.
O executivo precisa, assim, em primeiro lugar aceitar que antes de exigir a mudança dos outros, dos membros de sua equipe, ele próprio deve processar a mudança de suas atitudes. A verdadeira e definitiva mudança é a auto-mudança, assim como o grande encontro da vida é o auto-encontro. É o encontro do indivíduo consigo mesmo. Se o líder não estiver disposto à auto-mudança, isto é, conscientizar-se das reais concepções que dirigem o seu comportamento e, se não proceder a um encontro consigo próprio, tornando-se mais objetivo e conseqüente em suas ações, como ele poderá demandar a mudança dos outros, dirigir-se ao encontro dos membros de sua equipe para construir uma interação democrática, de busca do consenso, da participação e da contribuição e realização individual e coletiva?
Como educador, responsável direto pelo desenvolvimento de seus liderados, o líder precisa intervir para que aprendam a analisar, e a compreender melhor a dinâmica das mudanças, a enfrentar o inesperado. Encorajá-los a aceitar a ambigüidade e a conviver com a incerteza. Desenvolver neles uma competência psicológica treinada para esperar o inesperado como inerente à dinâmica da vida nas organizações.
Dedique maior atenção ao processo de aprendizagem em equipe mais do que ao que sabe a equipe individual ou coletivamente. A equipe deve se constituir numa comunidade de aprendizagem, em que o conhecimento compartilhado é o diferencial competitivo. Perceba nas disfunções, rupturas ou descontinuidades de hoje as possibilidades de amanhã. Lembre-se: O extravagante de ontem é o senso comum de hoje, e, certamente, será a obsolescência de amanhã. Substitua a reflexão excludente de uma alternativa ou outra pela apreensão holística da realidade – pense e reflita sempre com o “e”, de inclusão, de uma alternativa “e” outra.
Reconheça que há atividades, tarefas e hábitos que precisam ser superados, deixados de ser praticados. Dar mais vida ao que não mais atende aos requisitos de hoje ou de amanhã, por mais significativo e importante que tenha sido no passado, somente desvia esforços do que realmente gera resultados, institucionalizando o erro. Faça todas as experimentações que julgar pertinentes, tente todas as alternativas na busca permanente pela melhoria, mas não deixe de preservar os princípios básicos e a identidade individual e grupal de sua equipe. Estas são inegociáveis.
Assuma a responsabilidade de construir o futuro, definindo e implementando uma estratégia de intervenção planejada de mudanças. Como disse o cancioneiro popular, “esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Pare de viver a síndrome do herói-sofredor, sentindo-se penalizado de si próprio, como se todas as artimanhas da vida estivessem sempre se articulando para lhe dificultar a existência e complicar o que poderia ter sido fácil. Dependa menos do gesto ou da palavra e concentre-se na ação, que garante os resultados.
Busque sempre as parcerias, deixe de agir como se uma pessoa ou mesmo um grupo pudesse realmente resolver as questões importantes apenas através de ações isoladas. Esteja sempre fazendo a costura, a interseção entre atividade e pessoas. Enfim, desenvolva um clima de trabalho em que as surpresas da vida não mais a surpreendam a equipe.


Do site: www.gestopole.com.br

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