quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Presente de grego corporativo




Publicado em 3-Jan-2011, por Jerônimo Mendes



O que mata não é a demissão em si, mas a forma como ela é praticada. Por trás de cada profissional existe, antes de tudo, um ser humano. Pense nisso quando tiver a difícil missão de dispensar o seu melhor funcionário.
Depois de quatro anos de bons serviços prestados para uma das maiores instituições de ensino de Curitiba, meu filho mais velho foi dispensado na véspera do Natal, dia da entrega do presente do amigo secreto, apesar de ser considerado um dos melhores professores na área de Educação Física.
"Dispensado" é um termo simpático que a maioria das empresas utiliza para amenizar o impacto negativo da notícia, principalmente considerando a época em que ela é transmitida, afinal, receber um comunicado desses na véspera de Natal é algo que não ocorre com muita frequência.
Na verdade, ele foi demitido embora isso não seja o fim do mundo. No papel de coaching, eu costumo dizer que se trata apenas de mais uma das inúmeras adversidades na vida de qualquer profissional. Nesse caso, a dor depende muito da intensidade que você atribui a ela.
O que está em jogo aqui é a questão da sensibilidade. Talvez eu esteja ficando velho ou emotivo demais, mas o que mata não é o fato e sim a forma como as coisas são realizadas. Quando isso ocorre longe da sua família você sempre tem ideia do que dizer, mas dentro de casa é mais delicado.
Na minha modesta opinião, as empresas continuam insistindo no velho erro de tomar atitudes extremas sem sequer avaliar as pessoas ou levar em conta o momento apropriado para isso. Falta de experiência, insensibilidade, prazer absoluto, mau humor, as razões para isso são incontáveis.
Eu já tive o desprazer de demitir em torno de vinte pessoas numa época difícil da minha carreira profissional, mas isso não impediu que eu negociasse o melhor momento com a diretoria e adequasse o formato da notícia, afinal, além de profissionais, lidamos, acima de tudo, com pessoas, de carne e osso.
Exceto pelo fato de ser meu filho, desconheço alguém da área – em geral desprezada pelas instituições e pelo próprio governo – que tenha se dedicado tanto quanto ele sem levar em conta a distância de casa e o fato de que as despesas com alimentação e transporte consumiam em torno de 40% do seu salário.
Você nunca sabe exatamente o que as empresas querem. Seguramente, alguém "caxias" como ele ofusca o brilho dos demais. Pessoas sérias, cumpridoras de horário, queridas pelos demais e dispostas a trabalhar no fim-de-semana quando convocadas, também não serve.
Para muitas empresas, é necessário ser flexível. Para outras, inflexível. Ser "puxassaco" é uma boa pedida para dirigentes inseguros no comando, do tipo que, para se tornar líder de fato, precisa de muita sabatina e nova encarnação.
No mundo corporativo em que vivemos, sempre existe alguém desprovido de hormônios, pronto para executar trabalhos dessa natureza com um leve sorriso na face, afinal, alguém tem que fazer o "trabalho sujo".
Saber compor a equipe, saber avaliar os profissionais e praticar o senso de justiça é coisa para gente grande, evoluída, líder por excelência, mas, como diz o velho ditado, "casa de ferreiro, espeto de pau". O que as empresas pregam nem sempre é o que conseguem praticar.
No mundo competitivo em que vivemos não há espaço para emotividade nem sensibilidade. Isso funciona bem nos bastidores, longe do ambiente onde você precisa sorrir para quem não gosta e fazer de conta que está tudo bem.
Se não tiver estômago para isso, corre o sério risco de ser substituído rapidamente por alguém disposto a fazer o dobro do que você faz pela metade do que você ganha. A regra é clara. Quem não sabe jogá-la não tem a menor chance.
Depois de quatro anos de elogios, avaliações dignas de inveja, sem nunca ter sido chamado atenção para corrigir uma falha ou algo que arranhasse a sua conduta profissional, alguém teve a alegria de dispensá-lo em detrimento de outros que, sem o menor escrúpulo, estão pouco ligando para a instituição.
Apesar do ocorrido, continua sendo uma grande instituição, composta por uma grande maioria de qualidade incontestável. Talvez você considere esse texto um desabafo de pai, mas eu continuo sonhando com um mundo corporativo melhor para o bem dos nossos filhos e netos.
Não tenho dúvidas de que meu filho vai sobreviver, é apenas questão de tempo. Nunca sabemos se o que acontece é bom ou ruim até sabermos o que vem depois. E como ele já conhece o discurso dentro de casa, a primeira coisa que ele disse quando chegou foi o seguinte: "pai, o importante é não perder o objetivo de vista". Depois, retirou-se para o quarto.
Pense nisso e seja feliz! Desejo a todos os meus fiéis leitores um 2011 maravilhoso!

Fonte: www.gestopole.com.br

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