quinta-feira, 31 de março de 2011

Comércio Varejista: a fina arte da grosseria - II



Publicado em 14-Mar-2011,  por Carlos Cesar D'Arienzo


As empresas (todas) são uma concessão do Estado, Estado vale dizer: sociedade. A sociedade fornece legalismo (direitos e deveres), civilismo, garantias etc para a empresa. Não é lógico, não é justo,  é ilegal (Constituição Federal, Código de Defesa do Consumidor, CLT) que a empresa retribua com incivilismo, que opere à margem da lei que a beneficiou, tratando os cidadãos como marginais. A empresa não é meramente uma unidade produtora e comercial, ela tem função social, nela são expressas as relações sociais de um povo, não estamos no século XIX, nas principais praças comerciais (Rio de Janeiro e São Paulo) negociando escravos ao ar livre; embora, em muitos aspectos, o Brasil não tenha abandonado o século XIX.
 
"O desenvolvimento econômico muda as atitudes, assim como é o resultado de atitudes modificadas." (C.P. Kindleberger)
 
Sobre a prática  de exigir que o cliente deixe  suas sacolas, malas, pastas etc na entrada da loja, devemos considerar que as margens de lucros, ou as taxas de lucros das empresas são pouco afetadas pelo quesito segurança nas lojas, imaginemos que problemas com  furtos (não me refiro aos assaltos realizados por quadrilhas especializadas) que ocorrem durante o expediente, não chegam a 1% ao ano, do faturamento bruto, imaginemos ainda que 99,99% dos clientes que frequentaram as lojas nesse período, não o fizeram com o intuito de roubá-las ou furtá-las, adotar tais medidas intimidatórias, pouco cortezes aos clientes, seria contraproducente, pouco inteligente. Existem no mercado diversos dispositivos eletrônicos que dispensam essa grosseria imposta aos clientes. Novamente : a empresa recebe legalismo e civilidade por parte da sociedade, deve retribuí-los, seja pela consciência (princípios éticos, morais) de seus administradores e proprietários, seja pela proficiência (pouco difundida no País),  seja pela força da lei, em última instância.
 
As empresas que praticam essa política sabem que estão equivocadas, porque não põem avisos nas entradas de suas lojas : proibida a entrada com volumes. Apenas deixam um funcionário a barrar a entrada dos clientes que não estejam dispostos a deixarem seus pertences no guarda-volumes. Algumas gerências (na realidade não sabem o que é gerir) são tão cínicas e despreparadas, que estampam em letras garrafais : não nos responsabilizamos por seus pertences no guarda-volumes, na realidade, o aviso deveria ser : suspeitamos de você, deixe seus pertences aqui e reze para não ser furtado, pois não nos responsabilizamos por nada. Algumas vão além do cinismo e entregam ao cliente, no caixa, uma pesquisa de satisfação (?).
 
Somente com uma revolução educacional (que extrapola a escola) os brasileiros terão uma educação voltada para os interesses do Estado e das empresas privadas. É o único caminho pacífico, já conhecido pelas sociedades. Não existe economia sofisticada sem Ética, caso contrário teríamos apenas uma barbárie sofisticada. Educação também é riqueza.




do site: www.gestopole.com.br
 

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