sábado, 26 de março de 2011

O que você vai ser quando crescer?


Publicado em 22-Feb-2011,  por Jerônimo Mendes


Essa é uma pergunta para a qual eu gostaria de ter a resposta na ponta da língua há mais de trinta anos quando a ouvi pela primeira vez. Aos dez ou doze anos dificilmente você tem a resposta embora improvise uma para impressionar os colegas. Se soubesse na época tudo seria mais fácil, mas o tempo não dá saltos.
De fato, até os vinte ou vinte cinco anos você faz pouca ideia de onde quer chegar. Conheço algumas pessoas com mais de cinquenta que não descobriram ainda e outras que nunca vão descobrir, mas isso não importa. Cada um faz o seu caminho.
Por conta disso, o ser humano vai levando a vida, tateando aqui e ali, como se dizia na minha terra, até encontrar um porto seguro onde possa ancorar o navio a fim de se livrar das tempestades.
Acontece que as coisas não são tão simples assim. Navios parados não pegam peixes nem transportam cargas e ainda por cima depreciam, portanto, não há como ficar esperando a morte chegar. De uma forma ou de outra, a natureza cobra sua parte e você precisa se mexer se quiser continuar comendo.
Aos quinze anos de idade eu fazia poesias para impressionar as meninas da minha cidade e, vez por outra, escolha uma vítima para receber os meus versos setissílabos, escritos em português impecável e inteiramente rimados.
Na época, como eu era bom de escrita, tirava notas altas em português e adorava um concurso de redação, aproveitava essa habilidade para descolar um elogio feminino e, quem sabe, ainda uma paquera das meninas mais cobiçadas da cidade.
Acontece que as coisas não são tão simples assim. As meninas adoravam os meus poemas, mas deixavam o autor em segundo plano. Dessa forma, passei a receber encomendas de poesias já que uma mostrava para a outra e cada uma que lia queria algo parecido.
Na época eu fui gostando da ideia embora isso me tomasse um tempo danado. Contudo, minha intenção era arranjar uma namorada e quanto mais eu pensava nisso, mais escrevia. Além do mais, eu adorava escrever.
Certo dia eu tive um insight - um estalo, como se dizia naquele tempo - e pensei que poderia ganhar dinheiro com isso. Passei então a escrever poemas em versos alexandrinos, comecei a estudar poesia, comprei livros e comecei a escrever desesperadamente na esperança de reunir material suficiente para publicar o meu primeiro livro.
Animado com a ideia e tentando sobreviver ao mesmo tempo, pois comecei a trabalhar com quinze anos e tinha de estudar à noite, comentei que o meu sonho era ser escritor ou um poeta. Eu tinha tudo para seguir em frente, mas a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse.
Foi quando alguém me disse com todas as letras que um escritor nunca desejaria ter lido: você está louco, rapaz, quer morrer de fome? Você já viu algum escritor rico ou bem de vida? Vá ser engenheiro, médico ou advogado. Aquilo foi como se eu tivesse recebido uma verdadeira ducha de água gelada em pleno Continente Antártico. Quase que de imediato, abandonei a ideia.
Assim, o tempo foi passando, as coisas foram mudando e o sonho acabou morrendo dentro de mim. Fiz escola técnica, não consegui passar no vestibular para Engenharia e acabei me cursando Administração de Empresas, profissão que aprendi a amar e respeitar com o tempo e a experiência.
Foram necessários quinze anos para eu conseguir retomar a minha veia literária embora ela tenha se manifestado por caminhos mais íngremes e pouco recompensadores. Foi a maneira que eu encontrei para tentar recuperar o tempo perdido e compartilhar os meus vinte e cinco anos de experiência profissional em empresas de médio e grande porte.
A literatura de negócios é um campo extremamente competitivo onde poucos fazem barulho com o apoio da mídia e muitos se viram ganhando dinheiro com o apoio de ninguém, mas é um campo gratificante. De uma forma ou de outra, a literatura abre portas.
Por que é que estou lhe contando tudo isso? Existem coisas pelas quais passamos que apenas o tempo é capaz de corrigir, mas que dependem muito do comportamento e das nossas atitudes alheias considerando que o ser humano é altamente influenciável.
Se as pessoas tivessem a mínima noção do impacto que suas palavras e ações provocam nas outras, certamente, tomariam mais cuidado ao oferecer conselhos inúteis que são capazes de afetar uma trajetória de vida.
Quando alguém se dirigir a você, seja o seu filho, o sobrinho, o filho do vizinho ou mesmo o filho do seu melhor amigo, e disser que pretende ser escritor, biólogo, professor, pedagogo, oceanógrafo ou algo semelhante, jamais cometa o erro de dizer que isso ou aquilo não é bom para ele.
Você nunca sabe o que é bom para os outros. Na maioria das vezes em que vacilou na carreira, nem mesmo sabia o que era bom para você, portanto, em vez de palpitar, recolha-se, reflita, incentive, utilize o método socrático dos prós e contras, mas nunca roube o sonho de alguém.
Há muito tempo atrás, quando alguém perguntou o que você queria ser quando crescesse, esteja certo de que o estímulo – otimista ou pessimista - que se seguiu logo depois da sua resposta foi determinante para chegar até onde você chegou.
Pense nisso e seja feliz!

do site: www.gestopole.com.br

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