domingo, 20 de março de 2011

Elementos de Administração de Capital de Giro


Publicado em 1-Mar-2011,  por Antonio Dias Pereira Filho


A administração de capital de giro é um tema regularmente tratado pela direção contábil-financeira das empresas, notadamente em tempos de crise. Embora geralmente compreendida como uma questão de curto prazo, a administração de capital de giro envolve, de fato, decisões de longo e curto prazos. Assim, pode-se dizer que ela está associada à gestão de três grandezas: capital de giro (CDG), necessidade de capital de giro (NCG) e saldo de tesouraria (T). O que vem a ser cada uma dessas grandezas e como elas se inter-relacionam?
   
O capital de giro pode ser entendido como uma grandeza que expressa, sob a ótica financeira, o resultado do conjunto de decisões estratégicas (de longo prazo) de uma empresa. Mais precisamente, o CDG mostra a existência ou não de recursos de longo prazo para o atendimento da necessidade de capital de giro, assim como o equilíbrio ou desequilíbrio na esfera das decisões de longo prazo. Seu valor é obtido por meio da diferença entre os capitais permanentes (exigível a longo prazo e patrimônio líquido) e os investimentos de longo prazo. Além do equilíbrio nas decisões de longo prazo, um CDG positivo revela a existência de recursos para o financiamento do giro dos negócios. Por outro lado, um CDG negativo mostra que a empresa utiliza recursos de curto prazo para bancar investimentos de longo prazo de maturação, o que a expõe a um maior risco financeiro.
 
Por sua vez, a necessidade de capital de giro (NCG) pode ser compreendida como uma grandeza que expressa o resultado do conjunto de decisões operacionais, ou seja, de curto prazo relacionadas ao ciclo operacional de uma empresa. De maneira simplificada, ela representa a diferença entre os investimentos em clientes e estoques e os créditos obtidos junto a fornecedores. Ou seja, ativos operacionais (investimentos) menos passivos operacionais (financiamentos espontâneos). A NCG resulta dos intervalos entre as saídas e as entradas de caixa ligadas à atividade da empresa (ciclo financeiro). Assim, ela tem um efeito direto sobre o seu nível de endividamento líquido e, por conseguinte, sobre seu valor. Eis uma razão pela qual otimizar a NCG deve sempre estar entre os principais objetivos da direção financeira das empresas.
 
Finalmente, o saldo de tesouraria (T) é a grandeza resultante da diferença entre o capital de giro (CDG) e a necessidade de capital de giro (NCG). Ele expressa o resultado de decisões de longo e curto prazos tomadas por uma empresa em determinado período. Trata-se de uma grandeza associada ao fluxo de caixa e que retrata a situação de liquidez da empresa. Em termos de mensuração, o saldo de tesouraria pode ser obtido por meio da diferença entre ativos e passivos financeiros (de curto prazo) ou entre capital de giro e necessidade de capital de giro (T = CDG - NCG). À luz do exposto, pode-se afirmar que o aspecto do cotidiano da gestão financeira depende, de fato, da capacidade da empresa de gerir suas estratégias e seu ciclo operacional.
 
Como se pode constatar, as grandezas supramencionadas resumem o conjunto das decisões da empresa. Ademais, elas permitem passar do balanço patrimonial ao balanço funcional, sendo este de caráter gerencial. Em outros termos, o CDG expressa o resultado das decisões referentes aos financiamentos oriundos de passivos não circulantes e patrimônio líquido, assim como aos investimentos em ativos não circulantes (realizáveis a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangíveis). A NCG, por sua vez, resume as decisões associadas a ativos e passivos circulantes operacionais. Por fim, o saldo de tesouraria confronta os ativos e passivos circulantes financeiros. Como se vê, todos os subgrupos do balanço patrimonial são considerados.
 
Assim, o balanço funcional, elaborado a partir dessas três grandezas, permite representar e identificar quatro perfis financeiros ou de liquidez básicos da empresa. O primeiro perfil (insatisfatório) expressa uma situação onde a empresa dispõe de CDG, mas em montante inferior à necessidade de capital de giro. Nesse caso, o saldo de tesouraria funciona como uma fonte de recursos para cobrir uma parte dos investimentos em ativos operacionais. O segundo perfil (sólido) corresponde a uma situação onde as três grandezas são positivas e o CDG é superior à NCG. Assim, o excedente de capital de giro é destinado a aplicações em ativos financeiros, o que proporciona à empresa uma liquidez confortável. O terceiro perfil (péssimo) mostra um caso de insuficiência de recursos de longo prazo, culminando numa “péssima” condição de liquidez, já que recursos de curto prazo estariam sendo empregados para financiar investimentos de longo prazo. Por fim, o quarto perfil (excelente) mostra uma empresa que opera com ciclo financeiro negativo (NCG<0; fonte de recursos) ao mesmo tempo em que dispõe de capital de giro (CDG>0). Assim, ambos os excedentes de recursos seriam aplicados em ativos financeiros.
 
Essas são, portanto, as bases para uma verdadeira administração de capital de giro que envolve, conforme exposto, a gestão do capital de giro, da necessidade de capital de giro e do saldo de tesouraria.

Antonio Dias Pereira Filho,doutor em Administração pela Université de Grenoble 2 (França), é professor da UFMG, coordenador do Neafe e membro da Academia Leopoldinense de Letras e Artes - ALLA.


Fonte: www.gestopole.com.br

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